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Dom Azcona: Avança Pará ‘foi gerado nas sombras do silenciamento institucional’

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O Programa Avança Pará tem três componentes que trataremos de analisar à luz dos Direitos Humanos, da Dignidade humana dos fundamentos da República Federativa do Brasil segundo a Constituição Brasileira (Art. 1) e a do Estado do Pará.

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É necessário lembrar como este Programa foi gerado nas sombras do silenciamento institucional do Governo do Estado, da Alepa e do Banco Mundial (Banco Internacional de Reconstrução e Desenvolvimento (Bird) e a portas fechadas. Assim, impedindo qualquer tipo de transparência, de credibilidade cidadã, democrática e republicana, provas estas evidentes do desprezo e do esquecimento gelado de todo o povo do Marajó que clama por justiça e por respeito à sua identidade e dignidade irrenunciável.

O primeiro componente do Programa AP é enunciado assim: “Combate à fome com investimento de 100 milhões de dólares num ano para ações da Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda (Seaster)”.

Trata-se, portanto, de um projeto assistencialista, de um Programa de não desenvolvimento nem de reconstrução, mas de combate à fome e a favor de um Marajó sem fome com o “objetivo de reduzir a insegurança alimentar”.

Este primeiro componente do Avança Pará é vergonhoso e insultante.

Desta maneira AP vai manter indefinidamente no Arquipélago o duro flagelo da fome com todas as consequências de desumanização degradante. Quando o recurso termine, a fome se perpetuará e a insegurança alimentar e social se eternizará entre nós. Assim acontecendo, perderá Marajó o trem da história para sempre…!

Marajó necessita desenvolvimento, este unicamente possível através da geração de fontes de trabalho, de emprego e de renda. Por isso o Governo do Estado do Pará está cego para um dos fundamentos da Constituição Federal no Artigo 1º, Inciso IV: “Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”. Diante de um território como Marajó com desemprego estrutural e secular com fortes repercussões bem comprovadas na perda da cidadania, da dignidade da pessoa humana e no desprezo sistemático, antidemocrático, obsessivo e político do Arquipélago, o Estado, a Alepa e a União mergulham na sua vã autossuficiência ao idealizar políticas  paternalistas é irritantes nunca tratando o marajoara como sujeito de direitos  mas como objeto degradado e cidadão “de menor”, alguém que tristemente  e sempre necessitará do “Grande padrinho”.

Marajó tantas vezes escarnecido e vilipendiado, grita, clama, não cesses, não trema a tua voz, ergue-a do fundo da poeira e não canses: “Existo! Sou eu! Não morrerei! Não”!!!

Afogado num hoje de águas mais profundas e traiçoeiras, um coletivo angustiado na encruzilhada de um Marajó sem caminhos grita: “Não quero! O meu Redentor vive e a Ele retorno! É no Deus justo e santo que encontro a minha esperança! Podeis rir, mas Ele está comigo”.

Como é possível que a Seaster, a Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda com esse Programa para descartáveis, esteja liderando como protagonista o desemprego estrutural, lançando-se contra os marajoaras por omissão, anulando a geração de fontes de trabalho e favorecendo e consagrando assim a indolência e a moleza negligente do povo! Assim se desfibra, se elimina a personalidade e identidade do Marajó, aviltando de fato desde a raiz, a dignidade humana do marajoara humilhando-o no desemprego, na dependência de escravo e na desestabilização ao arrancar de modo bárbaro todos os direitos da cidadania e a dignidade humana, imagem viva de Deus contentando-se com “repartir dólares”.

Todo o mundo civilizado compreende que o direito ao trabalho e a iniciativa privada é um direito humano fundamental com frequência sufocado como por exemplo no Programa Avança Pará.

A experiencia demonstra que a negação deste direito ou a sua gravíssima limitação como no Programa AP destrói de fato todo espírito de iniciativa, quer dizer, a subjetividade criadora do cidadão e a capacidade de qualquer desenvolvimento humano. Com isto se dá para o cidadão marajoara um “nivelamento para baixo”.

Falando em miúdos, no lugar da criatividade do trabalho e da iniciativa econômica garantida pela Constituição Federal, no entanto, Estado do Pará, a Alepa, a União e o Banco Mundial vão fazer prevalecer: A passividade, a dependência e a submissão ao aparato burocrático que como único órgão “disponente” ou “decissional” e talvez “único possessor” da totalidade dos bens e dos meios de produção, fará com que todos no Marajó fiquem numa posição de dependência absoluta.

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Assim esta situação de iminente e forçada imposição nacional, estadual e internacional se assemelha profundamente á bem conhecida e triste dependência do operário proletário do capitalismo (Cfr. João Paulo II, Solicitude Social 15).

Ora, isto gera um sentimento de frustração e desespero ao mesmo tempo que predispõe para o desinteresse pela vida nacional e mais em concreto pelo Estado do Pará confirmado mais uma vez por muitos marajoaras no Arquipélago: “Marajó não é Pará”; “Marajoara não é paraense”! Estes sentimentos muitas vezes repetidos no Marajó impelem a muitas pessoas para a emigração, favorecendo em todo caso uma espécie de migração “psicológica”.

Uma situação assim provocada pelos atores já elencados tem também suas consequências sob o ponto de vista dos territórios. No caso do Marajó com efeito, o Estado descumpre e esquece o Art. 13 da Constituição Estadual fundamento para manter a identidade do Marajó e junto com a Assembleia Legislativa do Pará, acrescido o descaso absoluto da União para uma devida intervenção no Marajó este como povo, grupo humano único e insubstituível é privado da sua subjetividade, ou seja, da sua “soberania” e tipo de “cidadania” que lhe são intrínsecas no sentido econômico e mesmo político, social  e mas ainda cultural porque unido e  adstrito a uma comunidade nacional e estadual onde estas dimensões  lhe são negadas.

Em miúdos, o Programa AP se evidencia como construção exclusiva de um determinado grupo social e institucional completamente alheio ao Marajó e à sua vocação histórica. Por tanto, Banco Mundial, Governo Central, Estado ou Partido de qualquer espécie, refratários todos eles como são aos interesses do povo não tem direito nenhum para usurpar o papel de liderança única como no caso. De novo constatamos a presença obsessiva do “Grande padrinho” comportando assim a destruição da verdadeira identidade da sociedade marajoara e dos seus cidadãos, movimentos populares… exatamente como acontece em todo gênero de totalitarismo.

Nesta situação, o homem marajoara e o povo todo tornam-se “objetos, coisas, números”, apesar de todas as declarações em contrário e das garantias verbais como podem ser as de a União, Alepa, Estado do Pará…

Por quê não avançar com coragem para o investimento desses 100 milhões de dólares para assistencialismo investi-los na produção maciça, intensiva e seletiva dos produtos da terra e da água do Marajó como por exemplo, do açaí? O investimento intensivo na industrialização de tão precioso produto para não permitir o descarte do mesmo nas mãos dos multifacetados “atravessadores”, controlar e realizar a comercialização nacional e internacional desde o mesmo Marajó, pode ser uma fonte segura e abundante de emprego, de renda, de dignificação pessoal, familiar e social para o povo marajoara. Por tanto, o horizonte fica aberto para a libertação de um grupo social secularmente escravizado.

Por quê a criatividade, abertura e imaginação dos organismos estaduais não estão investindo milhões de dólares para a produção de peixes? Todos sabem que o peixe no Marajó é abundante e se produz com facilidade em igarapés, lagoas, rios pequenos e grandes, no Oceano Atlântico …

Com estudos técnicos apropriados em toda esta área e através da industrialização do peixe no mesmo Arquipélago e a sua comercialização deste, o mesmo Marajó se constitui para o mundo em fonte segura de alimento saudável, de emprego e trabalho.  Assim se multiplica a renda e permanece assegurada para todo Marajó.

As possiblidades econômico-sociais que oferece o ramo do turismo fariam que Marajó conseguisse realizar grande parte da sua vocação econômica, social e cultural no esplendor deste Arquipélago completamente aberto assim a um futuro promissor que respeitará sua identidade, acompanhará seu protagonismo e vocação econômica! Desde o açaí (Agricultura), peixe (Pesca) e Turismo através da criação de emprego abundante, Marajó conservará com dignidade e desenvolverá no presente e no futuro sua identidade subjetiva e social. Desde Marajó e no Marajó aberto plenamente a Amazônia, ao Brasil e ao mundo!

Evidentemente isto supõe investimento sério nas comunicações dobrando os interesses particularistas das oligarquias, dos barões, dos políticos que giram perigosamente em torno, dentro e fora do Marajó, da Amazônia sempre contra o Arquipélago e o seu povo.

Por último e como AP está estruturado em três eixos: Combate a fome, (Seaster), aceleração da aprendizagem (Educação – Seduc) e meio ambiente (Semas) necessariamente tem que atuar interligados. Através da criação de emprego, trabalho e renda respeitando a identidade geográfica, meio ambiental e cultural do Arquipélago na proposta de políticas públicas para educação, estas também enraizadas na realidade de autonomia da família, alunado, professores e articulada na segurança que oferece um emprego digno, seria e é a base possível para uma transformação da educação e de uma bioeconomia marajoara e sustentável!

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Mais claro, segundo o Secretário de Estado de meio ambiente e sustentabilidade, Mauro Ó de Almeida: “Estamos trabalhando para trazer benefícios para as ações de sustentabilidade e preservação do meio ambiente mas também para educação e assistência social entendendo que essas áreas estão conectadas”.

Senhor Secretário, sem assistência social libertada do assistencialismo como sistema e sem o eixo estruturante para essa libertação do assistencialismo, quer dizer, que a criação sem emprego e trabalho não tem como conseguir que estas três áreas fiquem efetivamente conectadas interligadas, organizadas num organismo vivo, capaz de comunicar vida e transformar Marajó integramente!

Essa afirmação está na linha da sua, Sr. Secretário, que explica o texto acima citado: “Com esse movimento (de trazer benefícios) o Estado não só reafirma seu compromisso à sustentabilidade, mas também se compromete com reformas estruturantes de políticas públicas de forma progressiva…”.

Uma reforma estruturante que atinge a todos os Direitos humanos como é a água, deve ser a prioridade das prioridades de qualquer reforma de políticas públicas. Senhor Ministro, na realidade o acesso a água potável e segura é um direito humano essencial, fundamental e universal porque determina a sobrevivência das pessoas e por tanto é condição para o exercício de qualquer outro direito humano (Papa Francisco, Laudato Sii 30).

O Estado do Pará e o Brasil tem uma grave dívida social para com os pobres do Marajó que não tem acesso a água potável porque isto é negar-lhes o direito à vida radicado na sua dignidade inalienável. Senhor Ministro possivelmente desconheça a tragédia que a cidade de Breves enfrenta dolorosamente durante decênios numa luta acirrada por água potável, por água humanizada, por água que em vez de produzir inúmeras doenças na sofrida população brevenses e de modo especial nas crianças gere, desenvolva, fecunde os seres humanos e com eles o meio ambiente familiar e social.

A tragédia da água poluída, envenenada paira sobre a maior parte desse Arquipélago. Que reforma estruturante de politicas públicas deveria assumir o Estado do Pará no seu compromisso com o povo marajoara antes do que a água?

Como acreditar nessas reformas estruturantes? Porque a Seaster não apresenta nenhuma reforma estruturante da sociedade em políticas públicas! Por tanto, nos encontramos num vazio perigoso para medir a eficiência do núcleo de assistência social mas também e necessariamente da educação e do meio ambiente que precisam educação e estruturas de trabalho, emprego e renda.

Segundo informação propiciada por Sic, PA ao falar do AP, não se explicita o tipo de empréstimo como se explica o do Pbl, baseado em políticas públicas (Em tradução livre) e condicionado à prévia performance do Pará em compromisso de atualização de políticas públicas estruturantes, assumidos antecipadamente com o agente financiador no caso da agenda climática, o Bird e a União!

Neste linguajar especializado sem maiores esclarecimentos que não favorece a transparência tão apreciada pelo Programa e tão vulnerada, ao mesmo tempo no processo de elaboração do mesmo, entendemos pelo que se refere a AP que as políticas públicas do Estado ou a sua performance em atualizações de compromissos de políticas públicas são absolutamente incapazes de responder ao conceito de políticas públicas tratando-se do Marajó.

Por exemplo, como aplicar o AP segundo as políticas públicas do Estado no fracasso completo da educação no território do Marajó? Ou o mesmo se diga em Segurança pública ou segurança social? Quê garantias pode oferecer o Estado para num ano ou em três anos contribuir, implantar e efetivar políticas públicas realistas no Marajó? O estudo estatístico e qualitativo do Relatório do Projeto de fortalecimento da educação dos municípios do Estado do Pará. (Etapa Marajó. Região Marajó do TCM/PA) não deixará no leitor dúvida nenhuma sobre o abandono da área da educação no Arquipélago e sobre a alta problematicidade de efetivar políticas públicas neste setor sem um conhecimento técnico e especializado do mesmo para realizar essas reformas estruturantes na área da educação.

Por último, como explicar as politicas públicas do Estado para o Meio ambiente ou Assistência Social sem fugir do Marajó “real”?

Sem afastar-nos do conteúdo e da palavra repúdio ao Programa AP trataremos em próximo artigo de finalizar esta análise crítica.

 

Soure, 31 de outubro de 2023

* D. José Luis Azcona Hermoso é Bispo Emérito do Marajó

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D. Azcona: carta (final) de repúdio ao Programa Avança Pará

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Foto: Divulgação

Esta última parte da Carta trata do Meio Ambiente no Marajó na vertente crucial dos Créditos de Carbono e das perfurações petrolíferas com relação ao Programa Avança Pará.

I
CREDITOS DE CARBONO

Fazemos agora a abordagem direta do tema complexo dos chamados Créditos de carbono localizados sobretudo no Município de Portel. Precisamente por ser este um dos Município com mais intenso desmatamento de todo o Brasil e com a presença já faz anos dos Projetos de carbono.

Apoiamos nossas reflexões em artigo publicado em outubro deste ano por Isabel Seta, Taís Carneiro, Giacomo Voccio. Portel (Pará).

A Defensoria pública do Pará entrou faz uns meses com três ações civis na Justiça contra empresas e pessoas físicas envolvidas em três Projetos de Crédito de carbono na zona rural de Portel, Município do Arquipélago do Marajó a 264 km de Belém.

Entre as irregularidades apontadas pela Defensoria pública do Estado está a violação do direito territorial das comunidades que vivem em parte das áreas usadas pelos Projetos, além da violação do direito dessas comunidades a serem consultadas de forma livre, prévia e informada sobre esses projetos.

Estas iniciativas geradoras de Créditos de carbono estão sobre postas à cinco assentamentos dos Projetos estaduais de agroextrativistas. São terras públicas estaduais tituladas pelo Governo do Pará, onde vivem pelo menos 1.484 famílias ribeirinhas. E onde no total os cinco assentamentos somam mais de 3.300 km2.

“Os projetos não tiveram qualquer autorização dos órgãos responsáveis”, os entrevistados afirmaram.

“Os representantes das empresas não disseram que os Projetos seriam de Créditos de carbono nem trabalharam com a Associação dos comunitários nem com Organizações que operavam na região”.

“Eles não diziam quem financiava os Projetos nem quem era o Coordenador, o dono da empresa. Unicamente que era uma ONG. Da forma como está sendo feito, o dinheiro está indo e a gente não sabe nem para o bolso de quem”. (Gracionice Silva, Presidenta dos
trabalhadores agroextrativistas).

A falta de transparência e clareza dos representantes dos Projetos também é um traço comum nos relatos recolhidos pelo G1. Ao longo dos anos, segundo os moradores, grupos de pessoas apareciam nos territórios sempre se comportando de maneira evasiva a respeito de a quem representavam, como eram financiados e quais os objetivos.

Na abordagem com as comunidades eles ofereciam Cadastro ambiental rural (CAR) como se fosse um título de terra quando na verdade não é um documento de posse de terra.

EMPRESAS A QUEM SÃO VENDIDOS OS CDC

Os três Projetos foram ministrados em 2020 e 2021 segundo a Verra, principal certificadora internacional e vendendo há tempo Créditos de carbono a empresas que querem compensar suas emissões de gases do efeito estufa. São centenas de empresas compradoras.

Entre elas: Empresas mundialmente conhecidas como: AIR FRANCE, BOEING, BRASKEM, TOSHIBA, SAMSUNG, farmacêuticas: BAYER, TAKEDA… Até o LIVERPOOL, time inglês de futebol.

Multinacionais consultadas pela reportagem, alegam que em geral não tinham um conhecimento das irregularidades apontadas pela Defensoria e que cada contrato é negociado de forma privada entre as partes. Por exemplo, em 2021 quase um milhão e quatrocentos mil Créditos dos projetos, o Pacajaí, foi usado por empresas para compensar emissões. Naquele ano o valor médio de cada Crédito foi de 580 dólares.

Assim se vendido esse valor seria esse ano 8, 1 milhões de dólares. É necessário lembrar que o projeto Pacajaí comercializa Créditos desde pelo menos 2015.

CADASTRO AMBIENTAL RURAL E O “FOGÃOZINHO”

“Cadastro ambiental Rural (CAR), foi utilizado de forma ilegal sendo vendido para as Comunidades a imagem de que se tratava de um benefício social gerado pelos Projetos, explicou a Defensora pública agrária Andreia Barreto, autora das ações na Justiça.

Segundo ela os Cadastros foram usados pelos representantes do Projeto como forma de legitimar o Projeto junto às comunidades.
Diante das denúncias, a Secretaria de Estado de meio ambiente e sustentabilidade, cancelou mais de 200 cadastros.

“O que eles cobravam em troca dos ribeirinhos, era só a assinatura da pessoa como apoiador. Este tinha que dar a assinatura para fazer o projeto e aí nesse Projeto estava incluído o CAR dando direito às 100 hectares para cada ribeirinho”, disse um dos moradores que preferiu não se identificar.

Vários declararam que receberam um fogãozinho como suposto benefício… São fogões bem pequenos que podem ser carregados com as duas mãos. Os moradores ouvidos são unânimes em dizer que os fogões são inúteis. Alguém disse: “Eu acho que eles pensaram que a gente era muito ignorante com as coisas. Mas a gente faz melhor que isso aqui.” (Nilton de Oliveira).

O Projeto identificado na Verra como o “Anapu-Pacajá” menciona a entrega de “Fogões ecológicos” …

NÃO ABRIR A ROÇA

Não apenas os Projetos não trouxeram benefícios palpáveis para as famílias locais como ainda tentaram coibir as atividades dos moradores locais. “Falaram para gente não fazer roça na parte da mata”, contou Lauro dos Santos, ribeirinho que vive nas margens do Rio
Anapú.

SEM CONSULTA

Em áreas de comunidades tradicionais, a legislação internacional à qual o Brasil se submete, determina que antes de qualquer ato administrativo que afete o território é preciso realizar uma consulta livre, prévia e informada. O que segundo também aponta a
Defensoria, não aconteceu!

BENEFÍCIOS

Os benefícios se limitaram a: Distribuição de cestas básicas, camisetas e fogões a lenha. Produção de CAR individuais apresentados como documentos de titularidade da terra e que não corresponde à realidade.

Empresas internacionais começam a negociar Créditos de carbono não gerando riqueza para o local e sim apenas para especulação (C. Ramos), doutorando no Instituto Amazônico de Agriculturas familiares do Estado do Pará da UFPA.

Segundo SIC-PARA noticiando sobre o AP comunica que no Programa do Banco Mundial (AP) e o outro Programa “Descarboniza Para”, explica Mauro Ó de Almeida, Secretário da Semas, está trabalhando em parceria com o corpo técnico e administrativo do Estado
do Pará de forma conjunta e colaborativa para estruturar esses dois Programas. Não só para as ações de sustentabilidade e preservação do meio ambiente, mas também para educação e assistência social, entendendo que essas áreas estão conectadas.

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“Com esse movimento o Estado não só afirma seu compromisso com a sustentabilidade, mas também se compromete com reformas estruturantes de políticas públicas de forma progressiva com o objetivo de garantir transição para uma economia de baixo carbono ou
seja, sem emissões líquidas de gases poluentes, os chamados gases de efeito estufa”.

O comentário natural diante destas palavras e da atuação da Semas com relação aos Créditos de carbono levanta em nós perguntas como:

1) Como os três Projetos de Portel dos que temos tratado, vendiam faz tanto tempo Créditos de carbono a empresas multinacionais sem intervenção nenhuma do Estado, sendo algo tão público e notório no Município de Portel? Por outra parte, a intensidade do desmatamento neste Município, bem conhecido em todas as estatísticas como um dos Municípios de maior incidência de exploração
madeireira ilegal não mereceram a atenção nem a defesa da Semas? Onde está a Semas? Onde a sua luta pela sustentabilidade?

2) Como se explica que a Semas se omitisse diante do mercado de Créditos não enfrentando as multinacionais, se omitisse de fiscalizar, notificar oficialmente a essas megaempresas internacionais sobre a ilegalidade dos contratos? Segundo a reportagem, base deste trabalho, as multinacionais consultadas ao respeito invariavelmente respondiam desconhecer completamente as irregularidades detectadas pela Defensoria pública. Não é lícito perguntar-nos? Não terá a Semas que sofrer uma transformação radical para responder aos desafios de um Pará em mudança constante e mais em concreto em torno das questões no meio ambiente?

3) Estes três Projetos de Portel têm vendido Créditos de carbono à empresas mundialmente conhecidas como acima citado. Algo tão conhecido a nível internacional e mundial era precisamente desconhecido pela Semas, pelo Estado do Pará! Se conhecia, não poderia ao menos, ter enfrentado a injustiça ambiental e as graves agressões contra o homem e a mulher de Portel, Marajó?

4) Se o Projeto Pacajaí funcionando desde pelo menos o ano de 2015, negociou quase um milhão e quatrocentos mil Créditos, um valor que de vendidos nesse ano chegaria a 8,1 milhões de dólares. Que podemos pensar diante deste fato? Como é possível que o Estado do Pará não tenha nada a ver com esta realidade?

5) Como se explica que a Secretaria de meio ambiente e sustentabilidade diante do “Cadastro ambiental rural” (CAR) que foi utilizado de forma ilegal permanecesse muda sendo vendida para as comunidades a imagem de que se tratava de um benefício social gerado pelo Projeto dos Créditos de Carbono, como explicou a Defensora Pública Agrária, Andreia Barreto? Os Car foram utilizados pelos Projetos como formas de legitimidade e propriedade às todas as comunidades… Como é possível? É de justiça reconhecer que a Semas cancelou mais de 200 Car usados pelos representantes dos Projetos! Mas tão tarde!

II
PROSPECÇÕES PETROLÍFERAS NA FOZ DO AMAZONAS

Estão chamando de “Novo Pré-sal” a área da Foz do Amazonas pela quantidade de petróleo estimado na costa do Amapá, Pará e Maranhão. Diversas áreas exploratórias na Foz do Amazonas foram leiloadas ainda no governo de Dilma Rousseff em 2013.

Mas as tentativas de perfuração de petróleo na costa do Amapá atraíram protestos de ambientalistas e escrutínios de reguladores. Como resultado, as empresas Total energies e a BP transferiram a operação de algumas áreas para a Petrobras. O Projeto referente a este poço especificamente hoje é 100% da Petrobras.

Estão pedindo licenciamento que se processa em várias fases. Na fase atual não há royalties, mas a partir da fase de exploração haverá. Daí a insistência que virá sobre os Municípios para que o Projeto seja aprovado.

Dentre os principais problema do Projeto estão:
– Os dados do Projeto são de 10 anos atrás.
– Em caso de vazamento de óleo, o Projeto não prevê o impacto na costa brasileira, mas apenas no mar. Imaginemos a desproteção do Marajó diante de um vazamento de petróleo e as consequências para toda a Amazônia!

Trata-se de um Projeto “piloto”. Se esse passar, a “receita do bolo” está facilitada para os próximos poços que já foram leiloados desde Amapá até o Maranhão.

O fluxo de navios passará pelos diversos territórios de pesca e os pescadores não poderão mais pescar aí. Logo a renda diminui e o efeito cascata na economia das Vilas e Municípios será sentida.

O processo de consulta está sendo realizado pela empresa contratada de forma desonesta sem contato com as Associações das comunidades. A empresa chega, reúne algumas pessoas pontuais nos interiores dos Municípios, eles assinam, batem foto e pronto. O
Ministério Federal já embargou esta consulta. Mas ela continua!

Conforme o inquérito civil público existe no MPF a denúncia de que a consulta que está sendo realizada está em descumprimento da convenção 169 da OIT que propõe ampla consulta pública ás comunidades a ser realizada pelo Estado.

O Projeto não prevê os danos aos recém-descobertos recifes de corais na Foz do Amazonas com berçários de inúmeras espécies ainda sem ser catalogadas.

QUESTIONAMENTO

Por que a Semas não dá informações livres, objetivas e completas sobre este assunto?

Por que diante da transcendência para a Amazônia não foi tratado na “Carta de Belém” de setembro? Por que não incluir no Programa AP esta temática junto a fome, a educação e assistência social? E para isso, a necessidade de transparência do Programa!

Por que o Estado não se posiciona diante do MP para pressionar o Governo, pois propõe-se que a Cop 30 seja realizada em Belém tendo como vitrine uma nova exploração petrolífera (caso realizar-se)?

Parece que a Semas tem uma responsabilidade grave sobre este assunto e outros junto a Assembleia legislativa do Pará para questionar e decidir sobre este núcleo transcendental do meio ambiente no Pará e de modo particular no Marajó com os 300 km de Oceano Atlântico na desembocadura do Amazonas entre a ponta do Pará e a do Amapá.

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É necessário para a defesa do meio ambiente e do direito da população marajoara e paraense a informação objetiva sobre um Projeto de tantas consequências através das Secretarias do meio ambiente municipais, sobretudo no Marajó. Quer dizer, AP tem que tomar outro formato e estrutura para responder à realidade ameaçadora que paira sobre o Marajó e a Amazônia inteira.

Não esqueçamos tão pouco que Semas evidentemente tem incidência e compromisso acadêmico com a Universidade!

CONCLUSÃO

1. O compromisso com a sustentabilidade e preservação do meio ambiente nos três itens neurálgicos já considerados, a Semas foi omissa.

2. É necessário estruturar como preconiza o Presidente da Semas, o Programa AP trazendo benefícios também para Educação e Assistência Social com sua colaboração específica num propósito que ainda não delineado a nível do Marajó, talvez nem refletido pela complexidade e a abrangência do objetivo se impõe pela urgência e transcendência do mesmo.

3. “Acelerar a agenda climática do Estado significa também comprometer-se com reformas estruturantes de políticas públicas” (Secretário O’ de Almeida).

A que se refere a Semas em concreto quando fala em reformas estruturantes de políticas públicas aplicando-as ao Programa AP? Pelo que estamos observando, poucas esperanças oferece a Secretaria de Meio Ambiente se não der uma virada de 360 graus na atualização à realidade marajoara e paraense, à liberdade cidadã para abrir caminhos novos no Marajó e na recusa a acomodação servil aos poderes também institucionais…

4. Políticas públicas. Ao longo desta Carta de repúdio tem-se constatado dolorosamente a ausência de políticas públicas eficazes do Estado nas áreas que correspondem às Secretarias de Assistência social, Educação, Meio ambiente assim como o descompasso do Programa com a realidade do Arquipélago.

5. Como as políticas públicas entendidas com tanto entusiasmo na apresentação do Programa AP se relacionam com a aquisição dos empréstimos, também neste casoa falta de transparência nos aflige e angústia.

Que pode significar em concreto “as reformas estruturantes das políticas públicas do Estado do Pará de forma progressiva com o objetivo de garantir a transição de uma economia de baixo carbono etc… sem emissões liquidas de gases poluentes…”?

Quando o descaso diante dos Créditos de Carbono em Portel, as monstruosidades repetidas e condenadas da rizicultura em Cachoeira do Arari, os silêncios com relação ao “Novo Pré-sal” na Foz do Amazonas, a devastação de Portel, Melgaço e Anajás e diante da evidencia de que a desertificação dos corações está na origem da desertificação galopante do Marajó, não podemos menos do que empenhar-nos em mudar o rumo por completo por meio de uma conversão autêntica e uma transformação radical de

6. Como sermos honestos diante da Cop 30, diante do mundo inteiro com uma porta de entrada da Amazônia por um Marajó abandonado, escravizado e recolonizado mil vezes, diante de áreas de proteção ambiental não protegidas mas abandonadas à sua sorte e à avareza estadual, nacional e internacional se não precede um impulso robusto de cidadania coletiva, sem a defesa da dignidade humana, numa palavra, sem respeitar as dimensões estruturantes do Brasil como por exemplo, com trabalho digno capaz de libertar pessoal e socialmente todo o Arquipélago?

7. Por que não reconhecer a idolatria do poder, do ter, do dominar existente no Marajó e no Pará?

Idolatrias que devoram humanismos e processos de civilização aqui e agora?

Por que não esclarecer e demarcar os intentos para dominar a Amazônia e despojá-la a partir de grupos e nações com colonizadores de fora e de dentro do Brasil, ainda mais de dentro da própria Amazônia?

Por que não dizemos sim quando é sim e não quando é não segundo a lei da consciência que está sobre nós e existe antes do que nós e que não é outra realidade senão a voz do próprio Deus em nós?

8. Por que não esclarecer os motivos pelos quais o senhor Governador do Estado do Pará tem sido um protagonista na publicidade dos Créditos de Carbono na mídia mundial em ocasiões de alto significado midiático e ecológico conhecendo como conhecia o funcionamento dos Créditos de Carbono no Marajó?

9. Que pensar das perfurações petrolíferas na Foz do Amazonas que podem afetar a toda a Amazônia a começar pelo Marajó?

Conhecemos como o Presidente Lula é defensor apaixonado do grupo dos Briccs. E ao mesmo tempo sabemos que o poder hegemônico mundial deste mesmo grupo depende do seu poder energético, do petróleo. Daí a tentação da perfuração petrolífera da Foz do Amazonas se constitui num grave perigo para o meio ambiente mundial.

Conhecendo o estreito entendimento entre o Governo Lula e o Governador do Estado, Helder Barbalho bem intenso e evidente, não será lícito começar a tremer diante da tentação à qual as nossas Autoridades podem sucumbir?

“Não nos deixeis cair em tentação! Mas livrai-nos do maligno”!

10. Por último, com relação ao Projeto de rizicultura de Cachoeira do Arari também se descobre com sobressalto como a partir da inercia da Semas durante 15 anos, tem permitido esta que se chegasse à devastação completa. Isto nos indigna e nos compromete!

Para a reconstrução do Marajó e seu desenvolvimento integral se requer dinheiro. É verdade! Mas sobretudo são necessários marajoaras dignos, com um profundo sentido de responsabilidade, com fibra suficiente para não se dobrar diante da corrupção, com espírito decidido e coragem! Com amor crucificado!

Por último, precisamos instituições eticamente corretas, livres para não se deixar corromper e dotadas de resistência cidadã que acompanhem, respeitem e promovam com palavras e ações a justiça e o direito.

Deus salve Marajó!

* Dom José Luis Azcona Hermoso é Bispo Emérito do Marajó

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