EDITORIAL

Falar mal do Marajó, todo mundo quer; dinheiro para resolver o problema, ninguém manda

Ninguém nega que há sérios problemas. Trata-se de negar que cada casa ou barco que exista no Marajó seja um antro de prostituição. Trata-se de negar que o Marajó se resuma a isso

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Foto: Bruno Cecim / Ag.Pará

Novamente o Marajó virou o centro das atenções em grande parte do Brasil e novamente por um motivo que é sensível e que denigre o arquipélago: o abuso e exploração sexual infantil. Depois de a senadora Damares Alves falar que existe uma rede articulada de exploração sexual infantil e de tráfico internacional de humanos e de responder a processo por não conseguir provar, foi a vez da cantora gospel Aymeê ir a um reality show de música evangélica cantar uma música/denúncia falando das mazelas marajoaras. Foi o estopim para o assunto voltar a tona e dividir opiniões num país que segue polarizado politicamente.

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Uma miríade de influenciadores digitais e artistas como Rafa Kalimann, Thaila Ayala, Gkay, Luisa Sonza, Ludmilla, Gabi Martins e MC Daniel foram às redes sociais expor o Marajó e se indignar com a situação cantada. Por aqui, no arquipélago, estes ganharam apoio de grande parte dos conservadores, que replicaram o conteúdo e defenderam o posicionamento dos famosos.

Na outra ponta, os progressistas criticam muito a música e a forma como o assunto é tratado de maneira superficial. Argumentam que trata-se de um levante religioso com a finalidade de se apropriar da pauta com fins políticos e doutrinadores. Também falam que trata-se de uma ação orquestrada para validar o discurso de Damares, processada para indenizar o povo marajoara em R$ 5 milhões.

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Ponto em comum

Mesmo os que criticam a exploração superficial da pauta, convergem com a outra parte num ponto. Ninguém nega que há sérios problemas. Só pelas páginas do Notícia Marajó passam dezenas de notícias expondo casos de estupro, de estupro de vulnerável, de exploração sexual e de muitos outros casos de violência, que vão da doméstica ao latrocínio.

Não se trata de negar os casos.

Trata-se de combater o exagero e o sensacionalismo com que a pauta é tratada, o que leva à desinformação.

Trata-se de negar que cada casa ou barco que exista no Marajó seja um antro de prostituição.

Trata-se de negar que exista um grande cafetão do marajó que comande a exploração usando um roupão à beira de uma banheira e fumando um charuto enquanto conta seu lucro.

Trata-se de negar que exista uma quadrilha organizada e que, sistematicamente, envia seus cupinchas às ruas para sequestrar crianças e vendê-las para a Europa.

Trata-se de não reduzir a discussão a uma pauta política polarizada.

Trata-se de negar que o Marajó se resuma a isso.

Mesmo que tudo isso fosse verdade, é muito difícil de acreditar que durante tantos anos, com tantos governos (incluindo o que Damares fez parte como ministra), fizesse vistas grossas e não tomasse providências.

Acreditar nisso é dar um tapa na cara das forças policiais, que, quase diariamente, prendem pessoas com envolvimento em crimes sexuais no Marajó e não encontram um ponto de ligação em tudo.

Não encontra porque, neste caso, os crimes são desorganizados mesmo.

“Ah, mas se todos os dias têm crimes sexuais sendo divulgados, então alguma coisa tem de verdade”, diria o defensor da tese.

O que tem de verdade nisso é a pobreza. Crimes como os que são cometidos no Marajó acontecem em todos os lugares, em maior ou menos proporção.

É natural que no Marajó, uma das regiões mais pobres do Brasil, com as cidades tendo os menores Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do país, isolada geograficamente, sem infraestrutura básica, sem perspectiva de desenvolvimento, com 1,2% da população trabalhando com carteira assinada e com o povo encabrestado por políticos que se calam diante de uma repercussão como esta, sofra mais com a violência.

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Trata-se de um problema social, inclusive detectado pelas igrejas que abundam no Marajó.

Como tal, assim deveria ser tratado por parte dos políticos das três esferas. O bispo emérito do Marajó, Dom José Luis Azcona Hermoso não se cansa de denunciar a inanição de investimentos no Marajó que não sejam assistencialistas (além de ser um dos mais ferrenhos combatentes contra a exploração sexual infantil). É só ir nas redes sociais de algum vereador, prefeito, deputado, governador ou mesmo do presidente para ver se tem alguma indignação com o caso que está em discussão. Raramente vais encontrar. À maioria destes interessa o silêncio da pobreza que acorrenta a população ao voto.

Aos outros, que desconhecem a realidade local, interessa o barulho da lacração. Não querem saber como é, de fato, a dificuldade da vida marajoara.

Falar mal do Marajó, todo mundo quer; dinheiro para resolver o problema (que é o que precisa), ninguém quer mandar.

Proposta

Já que os dois lados ideológicos convergem ao menos num ponto: a necessidade de melhorar o Marajó, porque não fazer desde limão uma limonada e aproveitar a repercussão para cobrar investimentos dos governantes.

Pegue o @ do seu político e exponha a situação, seja qual for o teu entendimento. Cobre mais polícia e investigação, se for a tua corrente. Cobre mais investimento social, em infraestrutura e ambiental, se for o teu caso. Crie um movimento.

Mas cobre, aproveite o momento. Só mexendo no bem mais precioso do político, o voto, é que as coisas andam.

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Os Riscos dos CRA no Agronegócio: Quem São os Melhores Geradores de Recebíveis?

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Foto: Divulgação

Nos últimos anos, os Certificados de Recebíveis do Agronegócio (CRA) se consolidaram como uma ferramenta essencial para o financiamento do setor agropecuário. Empresas de diversos elos da cadeia – desde revendas de insumos até grandes produtores e fabricantes – têm recorrido a essa modalidade para financiar suas operações.

No entanto, a sustentabilidade dessas operações depende fundamentalmente da capacidade dos emissores de gerar recebíveis previsíveis e confiáveis. Alguns players do setor, como as revendas de insumos agrícolas, enfrentam desafios estruturais que comprometem essa previsibilidade.

Os recentes casos de Recuperação Judicial (RJ) no setor demonstram as fragilidades desse modelo.

A #Agrogalaxy, uma das maiores redes de distribuição de insumos do Brasil, operou por vários exercícios com margens negativas e prejuízos sucessivos, tornando-se um exemplo gritante da vulnerabilidade financeira que muitas revendas enfrentam.

Esse cenário agrava a percepção de risco dos CRAs emitidos por essas empresas e levanta questionamentos sobre a viabilidade de sua securitização no longo prazo.

Afinal, quem são os emissores mais seguros para lastrear os CRAs? Vou explorar essa questão. Desde já opiniões complementares e/ou divergentes são muito bem vindas.

O Desafio das Revendas de Insumos: Margens Baixas, Risco Jurídico e Incerteza Comercial

As revendas de insumos agrícolas, que atuam como intermediárias entre fabricantes e produtores, dependem fortemente da concessão de crédito aos clientes para manter seu fluxo de vendas. Contudo, essa estrutura apresenta riscos críticos que podem comprometer seriamente sua capacidade de honrar as obrigações financeiras assumidas nos CRAs.

1. Margens Operacionais Estreitas e a Percepção de Risco Aumentada

Muitas revendas operam com margens líquidas próximas de zero, insuficientes para absorver oscilações de mercado e, ainda menos, perdas decorrentes da inadimplência dos produtores rurais.

A Recuperação Judicial da #AgroGalaxy, que reportou prejuízos sucessivos e dificuldades na renovação da sua carteira de clientes, elevou a percepção negativa do setor. Agora, investidores exigem prêmios de risco mais elevados para adquirir os CRAs emitidos pelas revendas, encarecendo a captação de recursos para essas empresas.

O modelo de negócio das revendas, baseado na renovação das vendas com os mesmos clientes a cada safra, torna-se vulnerável quando há perda de credibilidade financeira. Além disso, eventuais “waivers” tornaram-se bem mais difíceis e, após as últimas revendas que ingressaram em RJ, os gatilhos para vencimentos antecipados por violação de “covenants” estão altamente sensíveis.

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2. Risco de Inadimplência e Impacto da Recuperação Judicial de Pessoas Físicas

A crescente quantidade de Recuperações Judiciais deferidas para Pessoas Físicas do setor agropecuário é um fator de grande preocupação. Esse fenômeno compromete diretamente os recebíveis das revendas, reduzindo a previsibilidade de pagamento e ampliando significativamente o risco financeiro.

Além disso, se um cliente pessoa física falecer antes da liquidação do crédito, os pagamentos podem ficar bloqueados por meses (ou anos) devido ao processo de inventário, impactando inesperadamente o fluxo de caixa da revenda.

3. Incerteza Adicional de Riscos Ambientais e Barter

Medidas ambientais unilaterais, como a “Moratória da Soja”, introduzem um risco adicional para as revendas. Como essas empresas dependem das tradings para concluir operações de barter (troca de insumos por grãos), precisam garantir que os produtores conseguirão entregar os grãos dentro dos critérios exigidos.

O problema é que a maioria das revendas não possui um compliance robusto e um sistema eficaz de monitoramento ambiental, dificultando a verificação prévia da aptidão do produtor para cumprir com a entrega dos grãos de acordo com regulamentos ambientais, muitas vezes impostos por outros países.

Isso significa que, mesmo que a revenda financie a operação corretamente, pode enfrentar dificuldades graves caso o produtor seja posteriormente impedido de vender seus grãos devido a restrições ambientais – um risco alheio à atividade da revenda, mas que pode resultar em prejuízos significativos.

4. O Impacto dos Rebates e a Contaminação das Margens

Um problema frequentemente ignorado é a prática dos “rebates“, considerados ilegais nos EUA, mas amplamente utilizados no Brasil.

Os fabricantes pressionam as equipes comerciais das revendas a aumentarem suas vendas em troca de comissões ou rebates atrelados ao alcance de metas. Isso leva a um ciclo perverso: o fabricante ganha com o aumento do volume de vendas, o vendedor da revenda pode ter ganhos no curto prazo, mas a revenda, que arca com os riscos da operação e da inadimplência, podendo perder margem e assumindo um risco desproporcional.

Em um ambiente de margens já pressionadas e riscos elevados, essa prática fragiliza ainda mais a sustentabilidade financeira das revendas e, consequentemente, dos CRAs que elas emitem.

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5. A Falta de Contratos de Longo Prazo com Agricultores

Diferentemente de grandes produtores, que possuem contratos estruturados com tradings e indústrias, a maioria dos agricultores não mantém contratos de longo prazo com revendas de insumos.

Isso significa que, a cada safra, a negociação precisa ser renovada, e os produtores podem simplesmente mudar de fornecedor conforme as condições de mercado. Esse fator compromete a previsibilidade da receita das revendas, minando a garantia da revolvência da carteira de clientes e tornando os recebíveis altamente incertos.

Com todos esses fatores, fica evidente que os CRAs emitidos por revendas de insumos apresentam alto risco estrutural, tornando sua viabilidade altamente questionável.

Quem São os Melhores Emissores de Recebíveis do Agro?

Diante das fragilidades das revendas, dois perfis de players se destacam como melhores geradores de recebíveis agrícolas:

 

  1. Agricultores Proprietários – Garantem previsibilidade operacional, possuem ativos imobiliários como garantia e têm acesso a crédito estruturado.
  2. Fabricantes de Insumos – Possuem margens mais elevadas, acesso a múltiplos instrumentos financeiros e maior capacidade de gestão de crédito.

 

A Securitização do Agro Precisa de Base Sólida

Os CRA desempenham um papel crucial no financiamento do agronegócio, mas sua viabilidade depende da solidez dos emissores e da qualidade dos recebíveis.

A emissão por revendas de insumos agrícolas apresenta riscos estruturais que vão desde margens apertadas e alta inadimplência até práticas comerciais prejudiciais, como rebates, ausência de contratos de longo prazo com agricultores, entre outros desafios recentemente evidenciados.

Para investidores, isso significa que a análise criteriosa dos lastros dos CRAs é essencial.

Desconfie de remunerações excessivamente atrativas, pois a estrutura do fluxo de caixa operacional da agricultura está muito apertada, restando pouco espaço para o pagamento de juros.

A emissão de títulos sem uma base sólida pode resultar em operações vulneráveis, com impactos negativos para o mercado de capitais e para o próprio agronegócio.

O desafio está posto: como garantir que a securitização do agronegócio seja viável a longo prazo? Esse debate precisa avançar, e a escolha criteriosa dos emissores será decisiva para o futuro do setor.

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